"Alice Dellal representa a perfeita
encarnação de tudo o que é único sobre a coleção de bolsas Boy Chanel, que
se esforça para estar longe das noções conformistas da feminilidade". Assim
explicou um porta-voz da marca francesa sobre a escolha da modelo
brasileira para a campanha, lançada no início deste ano.
Quem acompanha moda certamente já ouviu
falar de Alice Dellal, mais precisamente de seu estilo exótico, punk,
ousado. Filha da modelo brasileira Andréa Dellal e do inglês Guy Dellal, ela
vem fortalecendo sua imagem de garota de atitude e marcando seu nome no mundo da
moda como uma das mais requisitadas modelos do momento. Em breve poderemos
ver Alice na campanha da Triton para a coleção verão 2014, num clima
hippie, com muito tie-dye e colorido, mas mantendo o sidecut hair tão
característico da modelo.
Também com um estilo bastante impactante,
a inglesa descolada Agyness Deyn, nascida Laura Hollins, em 1983, aos 17
anos ganhou novo nome e começou uma carreira que a levaria a ser eleita a
modelo do ano de 2007 pelo ‘British Fashion Awards’. Ou seja, os fashionistas
se apaixonaram pela menina de ar andrógino, que curte rock, looks um tanto
masculinizados, urbanos e cabelos repicados que mudam de cor e tamanho ao
sabor do vento, quer dizer, da vontade de Agyness de se divertir com seu
próprio visual.
Poucas décadas antes de Alice e Agyness, a
hoje musa fashion Kate Moss já atraía para si os olhares de estilistas e
fotógrafos encantados com sua imagem rocker e atitude meio rebelde, tendo sido
uma das modelos mais bem pagas em meados dos anos 2000, de acordo com a revista
Forbes.
Mas num mundo em que as meninas mal nascem
e já são apresentadas às princesas da Disney, salvas das bruxas más por
príncipes em cavalos brancos, em que o estilo mocinha fina e comportada
faz a cabeça da maioria das mulheres, que perdem horas de seus dias tentando
manter o cabelo liso e em ordem e o closet recheado de peças elegantes,
por que algumas se destacam justamente pelo oposto e fazem sucesso com
marcas como a Chanel, ícone mundial do chique e do clássico!?
Talvez seja simplesmente porque elas, com
roupas rasgadas, cortes modernos e personalidade forte, estejam assumindo quem
verdadeiramente são, sem se preocupar em serem aceitas por já se aceitarem
e se gostarem da forma como veem a vida e gostam de vivê-la. E esse comportamento
se reflete diretamente modo como se vestem. A moda lhes dá essa liberdade
de “dizerem” a todos que se sentem bem daquela maneira, sem precisar ser
mais uma em um mar de “princesinhas” escravas da moda e da perfeição.
Mas isso não vem de hoje. A moda como
reflexo do comportamento humano faz parte da história desde que o mundo é
mundo. As tribos que se formaram ao longo dos anos deixaram marcas que
influenciam a humanidade até hoje, com suas particularidades e ideologias,
maneiras de pensar externalizadas em roupas, maquiagens e penteados. Os adeptos
do estilo ‘paz e amor’ são um exemplo forte da relação entre moda e forma de
expressão. Para fazer oposição ao consumismo e ao capitalismo, à violência, ao
preconceito racial e sexual e às tradições militares e economias vigentes na
década de 60, os hippies viviam em comunidade, dividindo tudo o que produziam.
Defendiam ideias ambientalistas e sustentáveis. Usavam roupas velhas, bastante
coloridas, abusavam de acessórios feitos artesanalmente e deixavam cabelos e
barbas crescerem, numa atitude de total liberdade, mas que para muitos transparecia
desleixo.
E o que falar do movimento punk, tema da
exposição de primavera deste ano do Metropolitan Costume Institute, em
Nova York? Nascido nesta cidade, na década de 70, chegando depois a
Londres, era altamente ligado à musica e à moda. Seus seguidores adotavam um
visual agressivo, com cabelos coloridos, raspados e espetados. As roupas,
inspiradas nos integrantes de bandas como a britânica Sex Pistols, que
teve seu visual criado pela estilista Vivienne Westwood, eram dominadas
por peças rasgadas, alfinetes e tachas com pontas. E com essa aparência, os
punks “gritavam” ao mundo que não concordavam com o que estava acontecendo com a
sociedade daquele momento, que eram contra as tradições, enfim, que tinham
outra ideologia.
Portanto, não há como negar que a moda é o
pensamento refletido no vestir, é o sentimento externalizado na aparência.
É um discurso, um desabafo que se lê por tecidos, modelagens, comprimentos,
cores e cortes. Enfim, moda é a personalidade traduzida numa imagem. Moda
é imagem. E, parafraseando o filósofo chinês Confúcio, a moda vale mais do
que mil palavras.
Por Patricia Seraphico
Formada em Jornalismo e Direito, Patricia atua como advogada, mas não deixou de lado sua paixão pelo jornalismo. Atualmente, mantém escreve sobre sua mais nova paixão: a Moda. Em seu blog, Patricia comenta sobre os looks do red carpets, desfiles, décor, entre muitos outros assuntos.
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