terça-feira, 9 de julho de 2013

A Moda vale mais do que mil palavras

"Alice Dellal representa a perfeita encarnação de tudo o que é único sobre a coleção de bolsas Boy Chanel, que se esforça para estar longe das noções conformistas da feminilidade". Assim explicou um porta-voz da marca francesa sobre a escolha da modelo brasileira para a campanha, lançada no início deste ano.



Quem acompanha moda certamente já ouviu falar de Alice Dellal, mais precisamente de seu estilo exótico, punk, ousado. Filha da modelo brasileira Andréa Dellal e do inglês Guy Dellal, ela vem fortalecendo sua imagem de garota de atitude e marcando seu nome no mundo da moda como uma das mais requisitadas modelos do momento. Em breve poderemos ver Alice na campanha da Triton para a coleção verão 2014, num clima hippie, com muito tie-dye e colorido, mas mantendo o sidecut hair tão característico da modelo. 



Também com um estilo bastante impactante, a inglesa descolada Agyness Deyn, nascida Laura Hollins, em 1983, aos 17 anos ganhou novo nome e começou uma carreira que a levaria a ser eleita a modelo do ano de 2007 pelo ‘British Fashion Awards’. Ou seja, os fashionistas se apaixonaram pela menina de ar andrógino, que curte rock, looks um tanto masculinizados, urbanos e cabelos repicados que mudam de cor e tamanho ao sabor do vento, quer dizer, da vontade de Agyness de se divertir com seu próprio visual. 

Poucas décadas antes de Alice e Agyness, a hoje musa fashion Kate Moss já atraía para si os olhares de estilistas e fotógrafos encantados com sua imagem rocker e atitude meio rebelde, tendo sido uma das modelos mais bem pagas em meados dos anos 2000, de acordo com a revista Forbes. 

Mas num mundo em que as meninas mal nascem e já são apresentadas às princesas da Disney, salvas das bruxas más por príncipes em cavalos brancos, em que o estilo mocinha fina e comportada faz a cabeça da maioria das mulheres, que perdem horas de seus dias tentando manter o cabelo liso e em ordem e o closet recheado de peças elegantes, por que algumas se destacam justamente pelo oposto e fazem sucesso com marcas como a Chanel, ícone mundial do chique e do clássico!? 

Talvez seja simplesmente porque elas, com roupas rasgadas, cortes modernos e personalidade forte, estejam assumindo quem verdadeiramente são, sem se preocupar em serem aceitas por já se aceitarem e se gostarem da forma como veem a vida e gostam de vivê-la. E esse comportamento se reflete diretamente modo como se vestem. A moda lhes dá essa liberdade de “dizerem” a todos que se sentem bem daquela maneira, sem precisar ser mais uma em um mar de “princesinhas” escravas da moda e da perfeição. 

Mas isso não vem de hoje. A moda como reflexo do comportamento humano faz parte da  história desde que o mundo é mundo. As tribos que se formaram ao longo dos anos deixaram marcas que influenciam a humanidade até hoje, com suas particularidades e ideologias, maneiras de pensar externalizadas em roupas, maquiagens e penteados. Os adeptos do estilo ‘paz e amor’ são um exemplo forte da relação entre moda e forma de expressão. Para fazer oposição ao consumismo e ao capitalismo, à violência, ao preconceito racial e sexual e às tradições militares e economias vigentes na década de 60, os hippies viviam em comunidade, dividindo tudo o que produziam. Defendiam ideias ambientalistas e sustentáveis. Usavam roupas velhas, bastante coloridas, abusavam de acessórios feitos artesanalmente e deixavam cabelos e barbas crescerem, numa atitude de total liberdade, mas que para muitos transparecia desleixo. 

E o que falar do movimento punk, tema da exposição de primavera deste ano do Metropolitan Costume Institute, em Nova York? Nascido nesta cidade, na década de 70, chegando depois a Londres, era altamente ligado à musica e à moda. Seus seguidores adotavam um visual agressivo, com cabelos coloridos, raspados e espetados. As roupas, inspiradas nos integrantes de bandas como a britânica Sex Pistols, que teve seu visual criado pela estilista Vivienne Westwood, eram dominadas por peças rasgadas, alfinetes e tachas com pontas. E com essa aparência, os punks “gritavam” ao mundo que não concordavam com o que estava acontecendo com a sociedade daquele momento, que eram contra as tradições, enfim, que tinham outra ideologia.


Portanto, não há como negar que a moda é o pensamento refletido no vestir, é o sentimento externalizado na aparência. É um discurso, um desabafo que se lê por tecidos, modelagens, comprimentos, cores e cortes. Enfim, moda é a personalidade traduzida numa imagem. Moda é imagem. E, parafraseando o filósofo chinês Confúcio, a moda vale mais do que mil palavras.

Por Patricia Seraphico 

Formada em Jornalismo e Direito, Patricia atua como advogada, mas não deixou de lado sua paixão pelo jornalismo. Atualmente, mantém escreve sobre sua mais nova paixão: a Moda. Em seu blog, Patricia comenta sobre os looks do red carpets, desfiles, décor, entre muitos outros assuntos.



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