CG: Para
formação específica de jornalismo de moda, quais os caminhos para uma boa
formação?
DK: Me formei em
comunicação social por pura falta de orientação e imaturidade, num momento
crucial da minha escolha acadêmica. Com um pouco mais de maturidade teria
escolhido arquitetura ou interiores. Trabalhei sempre como redatora em agências
durante o período da faculdade, e nelas fui vendo meu interesse também pela
parte gráfica. Quando me formei, comecei a trabalhar com produção de
fotografia, menos de moda, mais produção executiva e de objetos. Em
seguida entrei na redação de revistas customizadas da Trip, fiquei bem pouco
tempo, e vim pra Joyce, que já estou há quase dois anos. Aqui comecei
escrevendo exclusivamente sobre arquitetura e design. Todo o resto foi
desdobramento disso. Não tenho nenhuma formação em moda. E pra falar a verdade,
moda nunca foi um assunto de interesse primordial para mim. Foi algo que foi
aparecendo aos poucos na minha rotina profissional.Não acredito em uma
inteligência "setorial" e segmentada, principalmente quando se
tratando de estética. Um olhar desenvolvido para artes, por exemplo, pode ser
treinado para ler o mercado de moda sem grandes dificuldades. Todas as áreas
que de alguma forma lidam com estética, se comunicam.
Para os
que querem então trabalhar especificamente com moda, acho crucial não se
restringir apenas a esse universo. Estudar sobre design, psicologia, arte,
arquitetura. Tudo é combustível para um bom profissional de moda. E o
conhecimento específico, apesar de indispensável, é quase consequência desse
aprofundamento amplo.
CG:Quais
as características que tornam uma jornalista de moda/editora competente em seu
trabalho?
DK:
Entender o espírito, o escopo da sua publicação. Isso é uma coisa muito
sensível, difícil de ser verbalizada, mas determinante para o sucesso da
revista. Saber que um designer faz sentido entrar na revista, mas outro não.
Sendo essa escolha algo que envolve milhões de detalhes, muitos deles
subjetivos.
Portanto
sensibilidade. Essa sim é a característica difícil de identificar, porém
crucial para profissionais dessa área.
CG: Muitas pessoas tendem a relacionar a moda
à futilidade. Como você, (como editora de uma revista de moda) procura combater
esse preconceito e tentar desfazer essa imagem preconceituosa na cabeça das
pessoas?
Qualquer expressão que se manifeste através de
consumo pode ser conduzida para um caminho fútil, vazio. A diferença entre um
colecionador de arte com embasamento sobre suas peças, e um comprador que quer
exibir em suas paredes, obras que de alguma forma exponham qualquer coisa além
de seu gosto artístico, como suas cifras bancárias é uma só: um aprecia a arte,
o outro aprecia o status que essa arte o garante. Colecionadores de carros
antigos, apreciadores de música, vinho, gastronomia: existe a compra pelo que
aquela peça é e a compra pelo que aquele elemento significa em um contexto
social.
Com moda é a mesma coisa. Existem pessoas que se
vestem para exibir o que têm –ou não- na conta bancária,e há quem se vista por
entender e apreciar estética, harmonia, equilíbrio entre cores. É uma forma de
expressão tão válida e com potencial para ter tanta carga artística quando uma
obra de arte. Os avanços da engenharia têxtil, as composições de estamparias, a
capacidade de modelistas de reinventarem a forma do corpo... reduzir tudo
isso a mero consumo é uma tremenda pobreza de espírito.
Por não editar o estilo de revistas só de moda, mas
de comportamento também, acho crucial atrelar a seleção de peças a um conceito
maior, a uma explicação do porquê daquela escolha.
Por Cecília Geyer
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