terça-feira, 26 de junho de 2012

Entrevista com Deborah Klabin. Parte Final.

Confiram a última parte da entrevista com a jornalista de moda Deborah Klabin!



CG: Para formação específica de jornalismo de moda, quais os caminhos para uma boa formação?

DK:  Me formei em comunicação social por pura falta de orientação e imaturidade, num momento crucial da minha escolha acadêmica. Com um pouco mais de maturidade teria escolhido arquitetura ou interiores. Trabalhei sempre como redatora em agências durante o período da faculdade, e nelas fui vendo meu interesse também pela parte gráfica. Quando me formei, comecei a trabalhar com produção de fotografia, menos de moda, mais produção executiva e de objetos. Em seguida entrei na redação de revistas customizadas da Trip, fiquei bem pouco tempo, e vim pra Joyce, que já estou há quase dois anos. Aqui comecei escrevendo exclusivamente sobre arquitetura e design. Todo o resto foi desdobramento disso. Não tenho nenhuma formação em moda. E pra falar a verdade, moda nunca foi um assunto de interesse primordial para mim. Foi algo que foi aparecendo aos poucos na minha rotina profissional.Não acredito em uma inteligência "setorial" e segmentada, principalmente quando se tratando de estética. Um olhar desenvolvido para artes, por exemplo, pode ser treinado para ler o mercado de moda sem grandes dificuldades. Todas as áreas que de alguma forma lidam com estética, se comunicam.

Para os que querem então trabalhar especificamente com moda, acho crucial não se restringir apenas a esse universo. Estudar sobre design, psicologia, arte, arquitetura. Tudo é combustível para um bom profissional de moda. E o conhecimento específico, apesar de indispensável, é quase consequência desse aprofundamento amplo. 


CG:Quais as características que tornam uma jornalista de moda/editora competente em seu trabalho?


DK: Entender o espírito, o escopo da sua publicação. Isso é uma coisa muito sensível, difícil de ser verbalizada, mas determinante para o sucesso da revista. Saber que um designer faz sentido entrar na revista, mas outro não. Sendo essa escolha algo que envolve milhões de detalhes, muitos deles subjetivos. 

Portanto sensibilidade. Essa sim é a característica difícil de identificar, porém crucial para profissionais dessa área.


CG: Muitas pessoas tendem a relacionar a moda à futilidade. Como você, (como editora de uma revista de moda) procura combater esse preconceito e tentar desfazer essa imagem preconceituosa na cabeça das pessoas?

Qualquer expressão que se manifeste através de consumo pode ser conduzida para um caminho fútil, vazio. A diferença entre um colecionador de arte com embasamento sobre suas peças, e um comprador que quer exibir em suas paredes, obras que de alguma forma exponham qualquer coisa além de seu gosto artístico, como suas cifras bancárias é uma só: um aprecia a arte, o outro aprecia o status que essa arte o garante. Colecionadores de carros antigos, apreciadores de música, vinho, gastronomia: existe a compra pelo que aquela peça é e a compra pelo que aquele elemento significa em um contexto social.

Com moda é a mesma coisa. Existem pessoas que se vestem para exibir o que têm –ou não- na conta bancária,e há quem se vista por entender e apreciar estética, harmonia, equilíbrio entre cores. É uma forma de expressão tão válida e com potencial para ter tanta carga artística quando uma obra de arte. Os avanços da engenharia têxtil, as composições de estamparias, a capacidade de modelistas de reinventarem a forma do corpo... reduzir tudo isso a mero consumo é uma tremenda pobreza de espírito.

Por não editar o estilo de revistas só de moda, mas de comportamento também, acho crucial atrelar a seleção de peças a um conceito maior, a uma explicação do porquê daquela escolha.

Por Cecília Geyer


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