quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Workshop - Megatrends - Paula Limena


No sábado, dia 6 de novembro, o Instituto Rio Moda realizou o workshop de Megatrends com Paula Limena no espaço da Tendenze em São Cristovão.

Para entender um pouco do que rolou nesse dia, Paula limena respondeu algumas de nossas perguntas.

1) Como a psicanálise pode auxiliar na compreensão e na articulação dos
métodos investigativos para mapear tendências?

R: A Psicanálise é, per se, um método de tratamento e investigação, que tem como objeto de estudo o inconsciente. É nesta instância que vamos operar com a livre associação a fim de como significar o desejo humano e a constituição do indivíduo enquanto sujeito (Sujeito à cultura, ao “outro”).
Assim, entendendo-se que as tendências estão norteadas pela movimentação desse desejo, movida por indivíduos especiais quanto à sua capacidade de influência (trendsetters) e fatos políticos, ambientais e econômicos que sujeitam a sociedade às transformações, faz sentido que busquemos subsídios nas Ciências Sociais e na Psicanálise para o encadeamento de ideias nesses estudos. Meu percurso na Psicanálise tem me ajudado na compreensão desses movimentos de diversas formas. Até mesmo a questão das estruturas clínicas (neurose, psicose, perversão), tem me servido como metáforas importantes para a interpretação de alguns movimentos. O estudo das Megatendências pressupõe uma interpretação de sintomas de uma dada cultura. Elas formam um arcabouço geral de possibilidades, porém cada cultura, com suas significações, simbolismos e costumes é que irão dar forma e potência às tendências. Nesse sentido é que a interpretação simbólica nos treina para poder respeitar nosso próprio insight. Esse pode ser um exercício até mesmo para que um designer, um criador em uma determinada área possa “respeitar” mais o seu dito “feeling” em uma determinada direção. Assim, o workshop passa da análise de um contexto coletivo para a sua interpretação daquele material e o que você pode fazer com ele.

2) Freud afirmou que morreria sem entender as mulheres. Você acredita que
o cenário da moda atual está conseguindo realizar esse feito? Como
você aplica esses conhecimentos na Not Naive?

R: Freud com toda a sua genialidade foi bastante modesto ao tecer tal afirmação. Digo modesto porque o entendimento dele em relação à formação do psiquismo feminino e sua estrutura são indubitáveis. Não acho que a moda atual consiga fazer isso. Acho que a moda atual contribui para mulheres ainda mais neuróticas (na melhor das hipóteses). Há uma ditadura da magreza, uma tirania das formas e dos preços que determinam se algo é bom ou não, e isso não me parece uma busca pela compreensão e pelo entendimento individual e do inconsciente do sujeito. Mas também não acho que seja essa a pretensão e o papel da moda hoje. As tendências em design e consumo sim, apontam para uma Estética mais acessível, enquanto a moda parece dar sinais de começar a se preocupar com essa questão, mas são sinais apenas. No workshop falaremos dos sintomas que me permitem essa reflexão.
A Not Naïve tem uma história diferente. Ela não é moda. Ela é simbólico. Não me importa eleger “best sellers” para cada estação. Criamos com a perspectiva de que o “desejo feminino de ser desejada” seja atendido. Isso com base em uma pesquisa do Erotismo (que data das origens da espécie e o ato do acasalamento e não da ditadura da moda), da sofisticação das matérias (através de tecidos que tenham um toque agradável que remeta à sensualidade, além de uma tecnologia adequada às necessidades de praticidade dos nossos tempos) e de uma instância onírica, em que a fantasia pode trazer elementos que busco incorporar aos produtos. Aqui fica bem claro que Moda tem processo de criação diferente de lingerie, de meias ou de qualquer outro suporte de vestuário.

3) Você enxerga diferenças entre os desejos do público brasileiro e os do
restante do mundo? Padrões globais seriam de alguma forma possíveis?

R: Entre os desejos, não. São os mesmos em qualquer cultura. Mas na simbolização desses desejos, sim. Na forma de se associar elementos e constituir traços mnêmicos, certamente.
Padrões globais de desejo são impossíveis, na minha concepção. Mas o arcabouço desses desejos sim pode ser uma estrutura “globalizada”. Já promovemos um grande evento de megatendências em que construímos uma interpretação para a situação brasileira mediante esse arcabouço global. Isso engloba um estudo profundo de indicadores de cada cultura em análise, pertencentes à religião, à construção dos mitos, à questão econômica, ambiental, ao consumo, à influência da mídia. Vamos abordar essa questão em profundidade no workshop.

4) Sua empresa Imageneer Consulting posiciona-se com o "branding by
heart". Como esta imagem se relaciona com o tipo de trabalho que vocês
realizam?

R:O estudo de Branding é uma confluência de elementos que relacionam uma marca aos seus “genitoresgestores”, além de sua relação com o desejo daquele público com quem ela deseja se relacionar. Para usar a linguagem da Psicanálise, é como se a criássemos a partir da instância do super ego. Conferimos, às marcas que trabalhamos, uma “alma”, para que ela seja constituída de forma a se relacionar com o desejo de quem queremos que a deseje. Isso pressupõe um estudo grande em relação aos interesses de público e sua condição desejante. Assim, o que dizemos com “branding by heart” é que fazemos esse trabalho de forma emocional e ao mesmo tempo, intuitiva. Importante dizer que o processo intuitivo não é desprovido de método e fundamentação.

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